sábado, 24 de dezembro de 2011

Duas palavras cordiais.

Acabei de ler a coluna Caos Ordenado, do Martín Langou. O texto da vez foi “ mais gentileza” e vale muito a pena conferir : http://www.punknet.com.br/nova/caos-ordenado-4-mais-gentileza-2012/
Tá tocando The Beach Boys e é noite de natal, eu sou atéia, detesto cavalheirismo e tenho calos nos dedos – das mãos e dos pés.
Eu não vivi, propriamente, em outras épocas, embora desejasse profundamente ter vivido. O que eu tenho de outras épocas são só impressões de quem as viveu, além de projeções que eu construí, através dos retalhos das impressões que as músicas e os filmes me transmitiram. Mas eu acho que é o suficiente pra eu concordar com Martín num ponto: “os tempos atuais escancaram uma verdadeira falta de cordialidade”.
Peguei um ônibus lotado, dia desses, num horário de pico, com direito a gritos e buzinas vindos de todas as direções, entrei e dei “boa noite” ao motorista. O tal do homem me olhou com uma cara de espera, como se me exigisse que eu exigisse algo dele, em troca do meu “boa noite”.
Então, hoje, noite de natal, eu vejo todo mundo tão amando o próximo como a si mesmo, sob a austeridade de um mandamento ...
Independente de convicções religiosas fatigadas, sejamos nós ateus, católicos, protestantes, budistas, não importa, o que eu tenho pra dizer é que falta, não só hoje, porque é natal, mas falta, cotidianamente, esse espírito de cordialidade para com o nosso próximo. Falta dar “Boa noite” pro cara do ônibus que, tanto quanto ou até mais que você, anda exaurido do caos da vida moderna.
Vambora parar de estatizar nossas relações, que a gente é, ou deveria ser, gente de carne e osso...

Vanessa Daiany.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

(des)construção social

Tem muita coisa acontecendo lá fora, eu sei.
Eu to aqui, escutando Fake Plastic Trees, com oitocentas apostilas espalhadas sobre a mesa. Observando as outras tantas pessoas nas outras mesas, com suas apostilas espalhadas.
Fico pensando que em cada uma dessas apostilas, de cada uma dessas pessoas, há uma construção individual. O emaranhado de mesas, cada qual com sua construção individual, resultaria numa construção coletiva.
Mas cada uma dessas pessoas, motivadas seja lá por quais forem seus motivos individuais, são fruto de uma construção coletiva social anterior a essa que nós somos. E nós, com nossas apostilas e nossos perfis nos sites de relacionamentos influenciaremos numa construção coletiva posterior a nós mesmos.
Eu não sei aonde quero chegar com essa conversa, mas, nesse momento, eu não consigo enxergar de que forma as minhas reações de Grignard, ou o Skinner da moça aqui do lado, ou a bioquímica celular do cara ali da frente, separadamente, podem mudar toda uma concepção de valores futuros.
A nossa sociedade nos dividiu em pequenos departamentos, nós, em cada uma dessas mesas, somos pequenos grupos funcionais de uma coisa maior, o problema é que esses pequenos grupos funcionais se afastaram uns dos outros de uma maneira tão efetiva, tão eficaz, que pensar numa mudança coletiva advinda de pequenas mudanças individuais é tão....tão pouco palpável, nesses dias em que eu deixei de ver o noticiário pra abrir um livro de química orgânica....

Vanessa Daiany.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Percepções.

A pedidos de Juliana Paulino. (Minha adorada Juba)

A conversa começou numa aula de física experimental, quando tentávamos provar, empiricamente, a Lei de Lorentz. Não sei bem como surgiu, mas o assunto foi parar numa marca importada de um esmalte que custava não sei quantos reais. Eu, do alto de todos os meus conceitos previamente estabelecidos, claro, julguei como pura futilidade. E a Juba disse uma coisa que me deixou pensativa: que não era a coisa pela coisa, sabe? Não era pelo preço que a coisa custava ou pela utilidade que lhe era conferida, era a coisa pela sensação que ela provocava. Que, mesmo parecendo fúteis, a sensação provocada por determinadas coisas, em determinadas situações, era totalmente impagável.

Fui pra casa meio absorta. E só bem depois pude perceber o que Juba queria dizer.

Quando, em pleno sábado de sol, a única Skol sobrevivente no freezer estava completamente pedrada, eu e painho passamos uns bons minutos tentando descongelá-la, como quem tenta salvar um ente querido prestes a morrer de hipotermia... No fim das contas a tal da cerveja não prestou pra nada. Mas era justamente dessa sensação que a Ju falava. Da percepção que isso tinha causado.

Depois eu parei pra lembrar uma série de outras coisas, como minha edição de 1967 do “Cem anos de solidão” que eu não troco por dinheiro nenhum. Ou meu posterzinho, de uns 10 cm, de “ A viagem fantástica”, 1966, que eu guardo com tanto carinho. O que essas coisas têm de tão diferentes de um esmalte importado? Elas estão lá, guardadas na minha estante, como pequenos troféus intocáveis e significam muito pra mim. Mas para minha mãe são só um monte de papéis costurados numa capa azul. Porque é tudo uma questão de percepção.

Hoje, há pouco, entrei num ônibus ofegante de tanto chorar. Uma velhinha, de uns 70 e tantos, me disse uma daquelas frases clichês “não fique assim, tudo passa”. Nem tudo passou, mas, por hora, isso me trouxe uma paz, um alívio, sabe? Como se a barra não pesasse tanto.

Porque, às vezes, a gente só precisa descongelar inutilmente uma cerveja, ou comprar, futilmente, um esmalte de não sei quantos reais, ou ouvir qualquer frase clichê, pra se sentir bem...

Vanessa Daiany.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Poetizando.

Eu gosto de parar para observar, sabe? Sentar no ponto de ônibus e sentir o barulho das buzinas, das pessoas gritando, do sinal abrindo e fechando, desse lá-e-cá da faixa de pedestres.
Dos acenos, eu gosto de observar os acenos seguidos de pés apressados e mãos tateando um espaço, naquele amontoado de corpos, também procurando um espaço, quem sabe não somente um espaço físico...
E dos cabelos brancos, reunidos na pracinha, com um dominó sobre a mesa de cimento. Eu gosto da sabedoria dos cabelos brancos, e até da impavidez de quem já viveu muito. Muitos, talvez, nem tenham vivido tanto assim, apenas existido muito. Particularmente, gosto dos que viveram muito. Dos que têm estórias de guerras, sejam elas interiores ou não.
Apesar de não odiar os comunistas, gosto de quem diz que odeia comunistas, como meu avô, que viveu sob a máxima: “comunista come criancinha”. Na verdade, mal sabe ele, esses aí são os padres. 
Não acredito em deus, mas eu gosto de observar as pessoas ajoelhadas na igreja, cada uma com seu dilema interior, tentando entregar suas dores, e o que consideram seus pecados, a um ser superior inanimado. Eu gosto de quem tem fé. Não essa fé cega, que considera qualquer outro tipo de crença, uma crença inferior. Mas a fé inocente e doce da minha irmã, que acredita que se rezar para santa Clara, ela faz a chuva parar de cair. 
Eu gosto de parar um pouco, pra ver a vida passar. Depois eu corro ofegante, pra tentar acompanha-la, enquanto meu pulmão diz: - por favor, nunca fume.

Vanessa Daiany

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Mohenjo-Daro: uma sociedade igualitária na Idade do Bronze

Eu precisava vir aqui, limpar as teias de aranha...

Ultimamente uma coisa tem me fascinado – e intrigado. Trata-se de um achado arqueológico : talvez a maior cidade, e mais perfeita, construída há 4500 anos, às margens do rio Indo, no Paquistão. Uma cidade maior e mais confortável que as capitais dos egípcios e sumérios, dotada de um sistema de abastecimento com vasos sanitários de assento e canalização de esgoto em todas as casas; talvez tenha abrigado uma população de cerca de 100 mil pessoas.

“Tudo indica que sua arquitetura nada tinha de pomposo. Uma cidade para cidadãos comuns, com inúmeras casas geometricamente enfileiradas, centro de uma terceira cultura altamente desenvolvida dos primórdios da idade do bronze”. (Revista Geo).

As escavações não mostraram, até agora, indícios da existência de palácios, nem templos, ou estátuas. Ao contrário do Egito e Mesopotâmia, não há vestígios de nenhuma construção monumental, muito pelo contrário, o que se vê são casas com, aproximadamente, a mesma estrutura, que diferiam apenas no tamanho (50 ou 100 m²), feitas de tijolos com proporção estratégica (comprimento igual a duas vezes a largura e quatro vezes a altura), o que possibilitava ao construtor segurar o tijolo com apenas uma das mãos, enquanto a outra ficava livre para que se pudesse usar “argamassa”.

O fato é que há indícios de toda uma sociedade, na Idade do Bronze, de 100 mil pessoas, sem convicções religiosas exacerbadas, quem sabe uma sociedade atéia. E, coincidentemente, essa mesma sociedade também não apresenta indícios de uma hierarquia, seja governamental, seja religiosa: uma sociedade igualitária.

Enquanto, no Egito, centenas de milhares de escravos tiveram de cortar e transportar pedras monumentais, com o intuito de construir um túmulo para o seu “rei-deus”; em Mohenjo Daro, planejadores urbanos geniais desenvolviam toda uma nova cultura habitacional!

Dá pra imaginar o que seria da sociedade contemporânea sem deus(ses)?

 

Vanessa Daiany.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Valter di Lascio - o poeta das ruas.

Eu tinha acabado de pedir um X-tudo e uma coca-cola, quando o di Lascio apareceu, colocando um livrinho miúdo (na verdade, uma porção de páginas xerocadas e mal grampeadas) do meu lado. Sem dizer nada, barba grande, maltrapilho, ele se sentou num banquinho ao lado e esperou.

Abri a Xerox aleatoriamente e vi em letras garrafais:

CANIBALÍSTICAMENTE CORRETO

Hoje estou com a fome dos canibais,

Devorar os bispos e os cardeais.

Larguei o sanduíche na hora. E então abri outra página, não conversamos nada nesse meio tempo, a não ser por olho: os meus surpresos e os dele como de quem já compreendia esse tipo de reação, e então veio:

Sonha Dor

Mania de sonhador

Que sonha andando

Sonhei com canções nunca ouvidas

Sonhei com suas pernas me entrelaçando

Teu sexo me roçando

Teus dentes me rasgando

Sonhei que era sonhador

Que não sente dor

E ao olhar-me no interior vi então

Que estava sangrando.

Por trás da barba enorme e esbranquiçada, ele me contou que ingressou no curso de história da Unesp. Mudamos de Assunto. Que importava se o curso da Unesp tava andando por aí, com uma bolsa azul pendurada de lado? Eu quis saber do Valter di Lascio poeta. E esse cara que era energia, movimento, por trás de uma barba mal feita e amarelada pelo cigarro. Que tinha cansado do sistema, da falta de incentivo, da nossa ignorância, dessa visão enfadada que ignora a necessidade de cultura. E dessa própria necessidade que passa desapercebida.

Depois me recitou um poema boêmio, que eu retribuí com um sorriso largo. E a gente teve de ir. Cada um prum lado...

Fiquei com a Xerox, de impagáveis R$ 2,50, um beijo no rosto, e um vazio enorme de tudo o que eu não perguntei e da cerveja que a gente não tomou.

Vanessa Daiany.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Arapiraca, saudades.

Eu cresci em Ará. Interior de Alagoas. Aqui em Maceió eu moro a uns dois anos, por conta da faculdade. Mas é pra lá que eu corro, sempre que dá.

Foi em Ará que eu vivi a minha fase de construção de valores e concepções, sabe? Estive pensando sobre isso ultimamente. Sobre quem eu seria se não tivesse sido influenciada por certas pessoas. Eu conheci Marx, por exemplo, através de uma professora de história, integrante do MST, quando eu tinha só uns onze anos. Não sou muito boa com nomes, mas acho que o dela é Ana Maria, não me recordo ao certo. Foi nessa mesma época que, através de uma professora de geografia, que lecionava também no mesmo colégio, eu conheci Josué de Castro e a geografia da fome. Cheguei a participar de um concurso nacional de redação, na minha categoria, de ensino fundamental, sobre sua vida e obra.

Outro dia eu encontrei, num supermercado, outra figura, professora da minha quarta série, e, engraçado, ela me reconheceu de longe, conversamos. Uma das primeiras coisas que ela me relembrou foi o quanto, desde pequenininha, eu adorava a matemática e as ciências. Fiquei pensando se foi daí que surgiu minha aptidão por ciências exatas.

Depois vieram minhas influências de rua mesmo. As pessoas que eu conheci por acaso. Outras por atraso. E daí pra filosofia de Nietzsche, pra boemia bukowskiniana, para o libertarianismo político/eeconômico, dentre outras coisas, foi só um pulo...

Hoje eu fico vendo toda essa movimentação cultural aqui pelo Arapiraca.al.gov, como o Sarau de retalhos, que acontecerá dia 24; e outras tantas coisas que eu não pude acompanhar, como o festival de repente, o cine inverno – e agora cine primavera - , etc... Bate aquela saudade, sabe?

Do frio, da noite, da poesia. Arapiraca é inspiradora, incontestavelmente.

Vanessa Daiany.

sábado, 10 de setembro de 2011

Todo sobre mi madre

Eu não entendo muito de cinema. Aliás, eu não entendo praticamente nada do que eu falo aqui. Eu sei das coisas que eu gosto e das que eu não gosto e isso não tem nenhuma implicação técnica. Se fosse pra ter uma implicação técnica, eu estaria escrevendo sobre resina de troca iônica e catálise heterogênea, o que não é o caso.

Bom, eu gosto de filme. E eu gosto de drama. E hoje pela manhã, lembrei de um filme do Almodóvar, que eu assisti há uns bons tempos. Todo sobre mi madre. No filme, a Penélope Cruz interpreta uma freira (Penélope Cruz em filme de Almodóvar é meio Johnny Dep em filme de Tim Burton) que engravida de um travesti e é contaminada pelo vírus HIV. E o resto só assistindo, óbvio.

É uma boa pedida pra quem quer passar o sábado no sofá, comendo pizza.

Daiany, vanessa.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Sou ALAGOANA.

Eu sou BRASILEIRA. E mais, eu sou NORDESTINA. E mais ainda, eu sou ALAGOANA. Maiusculamente Alagoana. E do interior. Cresci no Estado com os piores indicadores socioeconômicos, num país de indicadores socioeconômicos nada invejáveis. Cresci no Estado que foi e continua sendo um latifúndio monocultor voltado pra exportação, com direito a trabalho escravo/servil e todo o mais.

Mas foi também na terra de Zumbi, que eu nasci. Na terra de Graciliano, de Hermeto Paschoal, de Cacá Diegues, Jorge de Lima, Aurélio Buarque...

E eu duvido muito que meu pai vá me trancar no porão e me estuprar por cerca de vinte anos. Ou que um vizinho se entupa de explosivo e estoure aqui, no meio da quadra de futebol. Ou que alguém deprede o apartamento aqui de cima, por ele pertencer a duas angolanas.

Não que inexista intolerância, mas, apesar dos pesares, eu ainda acho que nós somos um povo mentalmente saldável.

Vanessa Daiany.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

li-ber-da-de

Estava eu pensando sobre asteroides, gnomos e semiótica, enquanto ouvia Shine on you Crazy Diamond do Pink Floyd. E então fui atrás da origem etimológica da palavra LIBERDADE. Li-ber-da-de. Pego uma xícara de café solúvel. Horrível. E então falo alto : Li-ber-da-de. Bom, segundo a minha fonte seguríssima , wikipedia, liberdade vem do latim libertas, que significa independência. Reticências. É também no wikidicionário que eu encontro algumas definições de liberdade, uma delas : direito de um cidadão agir segundo a sua própria determinação, desde que dentro dos limites da lei. Liberdade significa independência. Agir dentro de um LIMITE implica numa co-dependência. Das duas uma: ou liberdade não é independência, ou agir dentro de um limite não é liberdade.
Segundo o wikidicionário, outra definição para liberdade é: estado de quem não está na dependência total de alguém. Ênfase no total. Então, liberdade, segundo a descrição, seria uma dependência parcial. O que só meio contraria a etimologia latina.
Para Nietzsche ( =D ), a tal da li-ber-da-de nada mais é que o desprendimento de qualquer vínculo, de qualquer verdade pré-estabelecida. Já para Max Weber, a liberdade é um risco e pode ter resultados maléficos e/ou benéficos...
Agora, meio de súbito, me vem um outro conceito – o de utopia. Isso mesmo utopia, ou fantasia, ilusão, quimera, como queiram...
E então, o que seria liberdade?


Vanessa Daiany.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Ahhh, a constelação de escorpião.


Por esses dias, dá pra ver a constelação de escorpião bem de pertinho. Eu não sei porque é que raios eu tô falando isso. Mas, hoje à noite, se você levantar a cabeça para o céu e conseguir avistar uma estrela avermelhada, pare algum tempo e admire-a. E então admire toda a constelação – é uma das minhas preferidas.

Não vou me ater a descrições técnicas, mas deixo um link legal e resumidinho: http://www.observatorio.ufmg.br/dicas02.htm

Olhe, se você puder, hoje à noite, beba um conhaque, acenda um cigarro, ou um incenso, sei lá, queima alguma coisa, beba alguma coisa, trague qualquer coisa, nem que seja sua própria sobriedade.  Mas olhe para cima e perceba que tem um universo inteiro, muito maior que você.

Um universo inteiro acima do seu senso de superioridade, ou inferioridade, se for o caso; acima das suas convicções, dos seus posicionamentos, das suas pretensões, dos seus medos pueris; dos seus conflitos, sejam eles internos ou externos; acima da sua fome e sede, sejam elas ideológicas e/ou físicas...

E antes que esse texto se torne uma autoajuda fodido, olhe para o céu e veja a constelação de escorpião....

 

Vanessa Daiany

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Desabafo


Olha, vou dizer uma coisa, eu tenho praticamente vinte anos, escrevo assim, por extenso, vinte anos, duas décadas. Meu avô materno escutava Cartola. Ponto. É só isso que eu tenho pra dizer. Eu gosto é de Cartola. Eu não acredito em Deus, meu livro de cabeceira é uma auto-biografia de Glauber Rocha. Eu nem sei se auto-biografia tem hífen, e não quero saber, porque eu não sei escrever e não tenho a mínima vontade de aprender. Eu gosto é de Astronomia. E, ao contrário do que muita gente pensa, não me considero niilista, nem marxista, nem comportamentalista, nem nenhum desses istas que usam pra definir o indefinível.

Eu gosto disso, gosto de puxar aquele “Esconderijos do Tempo” do Quintana da minha prateleira, de madrugada, pra ler “seiscentos e sessenta e seis”.

O que eu não gosto, o que não me desse à garganta, é essa geração, que é a minha geração, praticamente, colorida, querendo implantar a pseudo revolução dos coraçõezinhos partidos. A geração que lota as prateleiras nas livrarias com um monte de livros de estórinhas chulas de vampirinhos modernos. Que conhece duas frases de Clarice Lispector. E que ouve porcaria. E que se dane se eu ando sendo moralista e preconceituosa, mesmo dizendo que eu detesto moralismo e preconceito.

Meu avô materno ainda escuta Cartola. E eu tenho vinte anos. E eu ando lendo Hemingway, então não me peçam pra ser complacente, de jeito nenhum....

Vanessa Daiany.