
Então, depois de três semanas regadas a muito café, energético e comida enlatada, eu, finalmente, arranjei um tempinho pra vir aqui.
Hoje, há pouco, no ônibus pra casa, ouvi, meio que de relance (JURO), a conversa entre duas senhoras. Uma delas se referia a um assassino como um perverso MAQUIAVÉLICO, assim mesmo, com essas palavras.
Penso na minha versão bolso da l&pm pocket meio surradinha de “ O príncipe” e fico me perguntando o porquê dessa associação Maquiavel-perversidade.
Primeiro eu quero dar um doce pra quem me apontar em O príncipe, a célebre frase: “os fins justificam os meios”. Quem, assim como eu, já leu o livro mais de uma vez, sabe exatamente que o italiano nunca a elucidou.
É importante analisar o contexto histórico em que a Itália se encontrava quando a obra foi escrita, por volta de 1500 e pouquinho (estudante de engenharia falando de história é uma merda mesmo.), a idade-média-dark-inside tinha por fim terminado e a onda renascentista-racionalista-cientificista quebrava o dogmatismo religioso. Dividida em ducados e principados, a Itália sofria com invasões de estados já muito bem constituídos e consolidados, então se via uma necessidade meio que gritante de se centralizar o governo.
Para Maquiavel, chegar à centralização, passaria, sobretudo, por uma ruptura entre política e ética.......(muitos três pontos), e Mais: por uma separação definitiva entre estado e os valores moralistas cristãos. O que é, para mim, uma maneira lógica e racional de lidar com a política.
A estratégica política maquiavélica visava, em primeira instância, um governo consolidado, mas que fosse apoiado pela massa, pelo povo. Acho que o autor só é visto dessa maneira tão pejorativa por ter retratado a realidade política como ela é, e não como nós gostaríamos que ela fosse.
Dona moça do ônibus, perversidade e crueldade não são sinônimas de maquiavelismo.
Vambora acabar com esse mito, não é mesmo?
Vanessa Daiany.